Infelizmente, a violência doméstica contra a mulher é uma
constante em nossa sociedade. Por meio da divulgação dos casos mais recentes,
percebe-se que os relacionamentos abusivos podem atingir qualquer pessoa, de
qualquer nível sócio, econômico e cultural. Muitos, infelizmente, acabam de
forma trágica, deixando no ar uma série de questionamentos. Segundo a psicóloga
Marina Simas de Lima, terapeuta de casal, família e cofundadora do Instituto do
Casal, uma das principais questões é: quais as dificuldades que as mulheres
vítimas da violência doméstica enfrentam para terminar esses relacionamentos
abusivos? As respostas são complexas, pois a violência doméstica não é apenas
um caso de polícia, é na verdade algo que envolve as relações conjugais e os
vínculos afetivos. Confira as observações da especialista.
Os relacionamentos afetivos são construídos ao longo do
tempo. Cada casal desenvolve sua dinâmica e forma próprias de comunicação.
Infelizmente, alguns casais constroem uma linguagem relacional que oscila entre
o amor e a dor. E é aqui que entra o abuso, seja ele verbal, físico ou sexual.
A culpa nossa de cada dia
Hoje, apesar da mulher ter sua profissão, sua independência
financeira e poder sair de uma relação abusiva, ela fica. Um dos motivos é a
culpa. O abusador, ao longo do tempo, leva essa mulher a sentir-se culpada pela
situação. Elas podem ainda sentir culpa e/ou vergonha por terem escolhido esse
parceiro.
Outra questão é que a mulher, dentro de uma sociedade
patriarcal e tradicional, como ainda é o Brasil, pode ter a crença de que para
ser completa precisa estar em um relacionamento estável e duradouro.
Isso pode vir da família de origem, da religião e de crenças
individuais. Assim, essa mulher permanece na relação e ainda acredita que o parceiro
pode mudar, pode melhorar. Dependendo da religião ou da cultura da família de
origem, o divórcio não é bem visto, não é aceito. Portanto, para essas mulheres
parece que a única opção é ficar, mesmo sob constante violência.
Empoderar é preciso
Sair de um relacionamento abusivo sozinha pode ser muito
difícil. Primeiro, porque a mulher pode nem perceber que se trata disso, pode
considerar normal a dinâmica do casal. Depois, há o medo do julgamento e a
vergonha de abrir os problemas conjugais para outra pessoa. E aqui vai um
alerta: é preciso empoderar as mulheres para que procurem ajuda.
Quem está dentro da situação tem uma percepção menos apurada
da gravidade. Assim, a recomendação é que a família e os amigos tenham mais
atenção aos sinais que podem indicar algum tipo de violência e oferecer ajuda,
escutar sem julgar e contribuir para que essa mulher entenda que está em um
relacionamento abusivo, mostrando inclusive quais podem ser as consequências
disso.
Intervenção necessária
É um mito achar que não se deve interferir em brigas de
casais. O bom senso deve prevalecer sempre. Porém, brigas de casais que
envolvem violência verbal e física, por exemplo, podem precisar da intervenção
de alguém de fora, seja da família, dos amigos ou de um vizinho. Lembrando
ainda que a terapia de casal também pode ajudar a mediar conflitos
conjugais.
Quando alguém pede por socorro, como seres humanos, devemos
nos preocupar, checar o que está havendo. A omissão pode levar a consequências
mais graves do que ser considerado apenas “intrometido”.
PENSE NISSO
"Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é
alguém que acredite que ele possa ser realizado".
Roberto Shinyashiki
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