O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
divulgou recentemente o último levantamento sobre a prática de esportes e
atividades físicas na população de 15 anos ou mais, apresentando um dado
alarmante: mais da metade da população brasileira está sedentária. A discussão
sobre o que pode ser feito para que esse quadro seja pelo menos minimizado
volta à tona.
Para o preparador físico Marcio Atalla a qualidade de vida
se resume a uma somatória de hábitos relacionados à alimentação e prática de
exercícios físicos. Porém, a situação atual dos brasileiros, que estão cada vez
mais obesos (de acordo com o Vigitel 2016) e sedentários (conforme a pesquisa
do IBGE), mostra que eles estão indo na direção contrária a um estilo de vida
saudável. Confira as dicas do especialista.
A falta de tempo é uma das frases mais utilizadas por
aqueles considerados sedentários (38,2%), seguida de 35% que alegam não gostar
de se exercitar. O não gostar de exercício é muito natural. Olhando para a
evolução das espécies, o ser humano nunca fez atividade física por prazer, mas
por necessidade. É uma questão de encontrar o que gosta: talvez não seja a
caminhada e sim a natação. Ou a aula de dança. Com certeza, cada pessoa tem um
tipo de atividade que agrade, basta descobrir qual é.
Em relação à falta de tempo, essa é uma realidade,
principalmente em grandes centros urbanos, mas pode ser adaptada. É preciso ter
em mente que para deixar de ser sedentário, não precisa começar a andar todos
os dias durante uma hora.
A mudança é feita aos poucos e de diversas maneiras: subir
as escadas do lugar onde se mora ou trabalha, nem que seja, no início, poucos
andares; se programar para a cada uma hora sentado, se levantar e circular para
que o corpo não se acostume com a inércia; optar por estacionar o carro em
vagas mais distantes do local de destino, entre outros, são atitudes que
começam a fazer uma importante diferença na saúde.
Essa é a oportunidade de mudarmos o cenário do país e
investirmos na saúde, para mais tarde colhermos os frutos de uma população mais
sadia, disposta e independente, pois se continuarmos nesse caminho, os danos
serão cada vez mais difíceis de serem reparados.
O sedentarismo tem um custo violento, estimado em 68 bilhões
de dólares por ano. Além de afetar a saúde, há um impacto em diversos outros
âmbitos, como a economia dos países, o que mostra a importância de se repensar
sobre o que é feito atualmente com foco na prevenção e voltar-se à medicina
primária.
“O problema vai além de medidas superficiais e
insuficientes, como sobretaxar ou reduzir ingredientes dos produtos. São
necessárias boas políticas de saúde pública para munir as pessoas de
informação, principalmente sobre prevenção e educação. Com a mudança da
previdência, por exemplo, em 2040, cerca de 30% da população terá acima de 60
anos e se essa mesma parcela chegar até lá doente e sem autonomia, o quadro
ficará insustentável”, conclui.
Segundo o IBGE, a população acima de 60 anos é a que menos
se exercita, o que não se relaciona apenas com limitações da idade. Essas
pessoas afirmam não se sentirem acolhidas em ambientes como a academia, que,
para elas, são locais destinados ao público jovem. Atalla conta que em sua
intervenção em Jaguariúna, onde colocou em prática um projeto com foco na
mudança do estilo de vida da população, algumas ações foram destinadas à
terceira idade, fazendo com que fosse possível que essa geração também se
movimentasse mais:
“Propusemos que, após assitir à TV ou fazer outro tipo de
atividade que não exigisse movimento, num período de aproximadamente uma hora,
essas pessoas se levantassem e andassem pela casa durante seis minutos. No
final do dia, elas juntavam mais de 40 minutos de movimento e nem percebiam!”.
Depois adquirir o hábito e reconhecer os ganhos fica mais
fácil se movimentar. A primeira melhora é na disposição e no condicionamento
cardiovascular, que se vê em uma ou duas semanas. Já com relação a ganhos mais
efetivos, em até dois meses nota-se grandes melhoras nos índices glicêmicos,
diminuição da pressão arterial, entre outros.
Responsabilidade e equilíbrio
Grande parte da população brasileira não tem condição
financeira para investir parte de sua economia na atividade física. Porém, nem
sempre tem por perto parques públicos que estejam preparados para recebê-las.
Com isso, esse público quase nunca é estimulado a sair do sedentarismo.
Além do movimento, a alimentação tem um papel fundamental
quando se trata de um estilo de vida mais saudável. Assim como o sedentário não
deve de um dia para o outro começar a participar de maratonas, as pessoas
também não devem acreditar em radicalismos com relação à alimentação. Dietas
restritivas, excluir um ingrediente especificamente ou se restringir a comer
apenas determinados alimentos não fará com que o estilo de vida se torne
saudável.
“Aumentar o consumo de hortaliças, vegetais e frutas e
diminuir o de gorduras e açúcar não vem contribuindo com a diminuição da
obesidade. Por outro lado, sobretaxar alimentos ou políticas de redução de
ingredientes, por exemplo, também não resolve. Já temos exemplos em outros
países que tentaram esse tipo de ação e não deu certo.
O problema é profundo e envolve educação populacional, o que
não se faz da noite para o dia. Às vezes, determinado alimento até então
“vilanizado” por exemplo, será o que vai dar um pouco mais de energia para o
filho de alguém de baixa renda que só tem condições de consumir isso no
momento. É preciso olhar o todo e não os detalhes. O trabalho feito em
Jaguariúna é exemplo dessa realidade”, afirma o especialista.
“Semeie a paz, o amor e a compreensão, mas trate com firmeza
quem te trata com desprezo. Gentileza não é sinônimo de ser capacho”.
Frase atribuída a Gandhi
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